DNA do Brasil registra pessoas pra namoro e clona objetosTem muita coisa acontecendo no mundo envolvendo o DNA de pessoas e objetos. O projeto DNA do Brasil quer fazer o mapeamento genético da população brasileira, enquanto isso em Harvard um aplicativo quer cruzar o DNA das pessoas para definir o namorado ou a namorada perfeita e ainda, um israelense conseguiu mapear o DNA de objetos e pode agora clonar qualquer coisa.
O ambicioso projeto realizado pela USP e Google pretende desvendar a receita genética do povo brasileiro sequenciando o genoma de 15 mil brasileiros — das mais diferentes cores, formas e origens — para entender melhor como esse caldeirão borbulhante de etnias influencia a saúde da população.
A iniciativa, batizada de DNA do Brasil, busca corrigir um viés racial e geográfico das informações depositadas até agora nos bancos de dados genômicos internacionais. Como a maioria das pesquisas desse tipo foi feita em países desenvolvidos do Hemisfério Norte, a maior parte dos dados disponíveis é de pessoas de origem caucasiana (ancestralidade europeia), que não representam a diversidade genética da população brasileira — caracterizada por uma mistura de europeus, negros e indígenas.
O Google participa do projeto a partir do fornecimento dos serviços de armazenamento, proteção e processamento de dados do Google Cloud, sua divisão de serviços na nuvem.
O estudo tem consequências práticas importantes para o desenvolvimento da chamada “medicina de precisão”, ou medicina genômica, que utiliza informações contidas no DNA para otimizar processos de diagnóstico, fazer previsões e orientar a seleção de tratamentos de acordo com as características genéticas de cada paciente — por exemplo, por meio da identificação de mutações que aumentam o risco de uma determinada doença ou diminuem a eficácia de algum remédio.
Os testes atuais de medicamentos são feitas usando a base européia de dados de DNA. O problema é que a genética europeia é muito mais homogênea do que a brasileira. Apesar de as letras do “alfabeto genômico” (A, T, C e G) serem as mesmas para todos os seres vivos, e de todos os seres humanos do planeta serem 99,9% idênticos entre si do ponto de vista genômico, a população brasileira — por conta do seu histórico de miscigenação — abriga uma variabilidade genética muito maior do que a de outros povos, o que torna o estabelecimento dessas correlações entre genes e saúde muito mais complexo. Daí a necessidade de gerar dados específicos para a nossa população, segundo os pesquisadores.
Fazendo uma analogia, o genoma funciona como uma “receita genética” para a produção de um organismo. Os genes são as instruções dessa receita, e as proteínas codificadas por eles são os ingredientes. As mutações são como erros de digitação nessas instruções, que causam alterações nos ingredientes. Essas alterações podem ser benéficas, maléficas ou inócuas, dependendo da função de cada ingrediente; e a única maneira de fazer essa diferenciação é conhecendo a receita original e o produto final. No caso do Brasil, cada indivíduo é uma sopa aleatória de ingredientes de diferentes continentes.
Além das aplicações práticas na biomedicina, as informações contidas nos genomas poderão abrir portas para o resgate de capítulos perdidos da história do Brasil e das populações que fizeram parte dessa miscigenação — muitas vezes contra a sua vontade, como no caso dos escravos trazidos da África e dos indígenas que habitavam o continente antes da chegada dos europeus.
Analisando a herança genética que esses povos deixaram na população atual, é possível reconstruir detalhes sobre a sua origem no tempo e no espaço. Todos os registros oficiais sobre escravos no Brasil foram queimados após a abolição, mas os genes podem dizer aos cientistas de que regiões da África ou etnias esses escravos vieram, por exemplo. Muitas etnias indígenas que viviam na região costeira do Brasil também desapareceram por completo.
Integração de dados clínicos e genéticos
O DNA do Brasil terá início com o sequenciamento do genoma de 15 mil brasileiros de diversas regiões do país, que têm idades entre 35 e 74 anos, integrantes do Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (ELSA Brasil), a maior pesquisa epidemiológica do país e que é financiada pelos Ministérios da Saúde e CTIC. O grupo tem sido acompanhado clinicamente desde 2008 e agora as informações genéticas serão agregadas a esse banco de dados.
Aplicativo de namoro baseado em DNA
Geneticistas da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, estão desenvolvendo um aplicativo de namoro baseado no DNA. A ideia é garantir que pessoas com genes recessivos para algumas doenças não fiquem juntas para que seus filhos não venham ao mundo com alguma complicação.
Em um exemplo simplificado: o gene da cor dos olhos castanhos é dominante, enquanto o azul é recessivo; portanto, se uma pessoa de olhos castanhos e uma de olhos azuis tiver um filho, provavelmente a criança terá olhos castanhos. Ou seja, se um portador de um gene recessivo causador de uma doença acaba tendo um bebê com alguém que carrega o mesmo gene, seus filhos têm 25% de chance de sofrer da doença, e essa é uma situação que o aplicativo de namoro pretende evitar.
No entanto, ainda que a criação desse aplicativo possa parecer boa, para que a plataforma possa funcionar um dia, seria necessário que boa parte da população mundial tivesse o seu DNA sequenciado, e essa ainda e uma realidade distante de muitos países.
Cientista israelense cria o ‘DNA das Coisas’
O cientista israelense Yaniv Erlich carrega um pequeno coelho de plástico branco, com cerca de 2,5 cm de comprimento, para qualquer lugar aonde vai. O objeto está longe de ser um mero chaveiro ou sequer um amuleto de boa sorte. É um experimento.
Feito em uma impressora 3D, o coelho esconde um segredo: mais de 350 milhões de cópias de uma cadeia de DNA, armazenadas dentro de minúsculas esferas de vidro misturadas ao plástico. Codificado dentro de cada cópia está o arquivo com o modelo 3D original usado para imprimir o coelho.
Ou seja, se você tirar um “pedacinho” qualquer do coelho e extrair seu “DNA”, poderá criar uma cópia dele, da mesma forma que extraindo o DNA de um animal real é possível criar um clone. O coelho é, na verdade, um experimento no uso do DNA para armazenamento de dados com alta densidade. E poderia iniciar uma nova era; a do “DNA das Coisas”.
O coelho que Erlich carrega é uma cópia de terceira geração, e o pesquisador já criou cinco gerações. Todas absolutamente idênticas, demonstrando a estabilidade do DNA como mídia de armazenamento.
“Esta é uma incursão muito inicial em uma das aplicações mais promissoras do armazenamento de dados em DNA: armazenamento onipresente”, diz Sriram Kosuri, bioquímico da UCLA que não esteve envolvido no experimento.
Com o armazenamento onipresente, todos os objetos do cotidiano poderão ser marcados com informações úteis, como onde foram fabricados, seus ingredientes ou composição, manuais de instruções, avisos de segurança e recomendações sobre a melhor forma de reciclar ou descartar o item.
“Incorporar informações diretamente nos materiais seria uma coisa realmente útil”, diz a cientista sênior da Microsoft Karin Strauss, que lidera uma pesquisa em sistemas de informações moleculares. QR codes podem se desgastar, manuais podem se perder, mas informação que estiver integrada ao próprio material do objeto irá durar enquanto ele estiver por perto.
Além da resistência, a tecnologia tem outro uso possível: segurança. Uma arquitetura de “DNA das coisas” pode camuflar arquivos confidenciais em objetos inócuos, transformando-os em dispositivos de armazenamento secretos capazes de passar pela segurança sem detecção. “Ele parecerá um objeto comum, portanto, é uma maneira muito eficaz de ocultar informações”, diz Erlich.
Link úteis
https://jornal.usp.br/ciencias/ciencias-da-saude/cientistas-querem-desvendar-receita-genetica-do-povo-brasileiro/
https://olhardigital.com.br/video/aplicativo-de-namoro-baseado-em-dna/94199
https://olhardigital.com.br/noticia/cientista-israelense-cria-o-dna-das-coisas/94119
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